Pé é uma parte de corpo muito estranha. Acho bizarro quem tem algum tipo de fetiche com pés. Por mais bonito que o seu pé seja, ainda não é algo agradável de se ver. As vezes, fico pensando como que descreveria um pé em detalhes para um ser de outro planeta que nunca viu um. Não é nem como se cada dedo fosse igual ao outro e simétrico, ele segue uma lógica própria, ainda que eu não entenda qual é. Sem contar que a distribuição de pelos é totalmente sem noção.

Quando era criança, sofri um pouco com os meus, digamos que são abaixo da média, talvez bastante. A falta do que fazer de uma criança me impressiona. Além de necessitarem que eu use palmilhas ortopédicas. É ruim não poder aproveitar promoção de tênis online. Talvez toda indústria varejista de calçados ainda exista apenas por pessoas como eu que precisam provar antes de comprar. Imagino que também se aplica a pessoas que não aguentam esperar os correios.

O que me surpreende nessa história toda é que já me falaram que meu pé é ‘lisinho e macio’. Nessas palavras. Ri bastante. Para alguém que sempre ouviu coisas negativas a respeito desse tópico, um elogio é um mundo. É difícil para a outra pessoa saber esse histórico nosso, que tipo de elogio agrada ou a crítica que dói mais. A gente nunca sabe exatamente o que uma pessoa pensa até que ela fale. A expressão também entrega opiniões de imediato, mas sem a profundidade das palavras.

O convívio traz esse tipo de previsibilidade, saber o que o outro pensa antes mesmo que se apresente algo. Sempre prefiro a surpresa da opinião, sem esperar nada. Anos e anos de amizade que ainda me fascinam apenas pelo gosto do inesperado. Opinião todo mundo tem, só é preciso saber em qual ponto de vista se confia e respeita. Até sobre algo trivial como pés.